Em Carambeí, município do interior do Estado do Paraná, a Fazenda Vale do Jotuva, que pertence à família Van Der Meer, é um exemplo de sucesso na geração de energia sustentável a partir da atividade pecuária. A propriedade, destaque na produção de leite em larga escala, suinocultura e agricultura, reutiliza a matéria orgânica descartada para produzir biogás e obter energia limpa.
Parada dos consultores do Projeto Pecuária de Baixa Emissão de Carbono do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), a visita técnica teve objetivo mapear tecnologias de produção que possibilitem uma inserção competitiva e sustentável de pequenos e médios produtores na cadeia produtiva de bovinos de leite e de corte, com foco na diminuição da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
A propriedade, que tem cerca de 660 hectares de área agricultável para a produção de milho, soja, aveia e trigo, além de um rebanho com pelo menos 1.100 cabeças, gera cerca de 21.000 KWh/mês, a partir de matéria prima orgânica animal e vegetal. A potência seria o suficiente para abastecer mais de 200 residências do Minha Casa Minha Vida, durante um mês.
A energia, retirada dos dejetos de animais e do lixo orgânico restante da produção diária da fazenda é repassada na forma de biogás para fazer funcionar outros equipamentos adaptados, que antes eram dependentes de combustíveis fósseis ou eletricidade.
Todo o projeto dos novos confinamentos e sala de ordenha é voltado ao conforto animal. “O piso do confinamento free-stall é constantemente raspado pelo scraper, mantendo assim o piso o mais limpo e seco possível. Outa parte do confinamento é no formato compost barn, que proporciona também mais conforto”, esclarece Van Der Meer.
A produção total de dejetos diariamente, fica em torno de 60 a 70 m³, sendo de 40 a 50 m³ líquido, e em torno de 15 a 20m³ de sólidos. O biodigestor instalado tem capacidade de 4.175 m³ de dejetos. “Ou seja, são 4,1 milhões de litros. Com a produção de aproximadamente 2.000m³ de biogás por dia”, confirma o proprietário.
O uso desse biocombustível na geração de energia é uma ajuda ao meio ambiente. Energia limpa que diminui os custos do consumo elétrico e ainda traz retorno financeiro direito para a propriedade. O processo reduz a quantidade do gás que é despejada na atmosfera e compensa com a liberação de gás carbônico, 21 vezes menos nocivo à natureza.
Na Fazenda Vale do Jotuva, cerca de 40% a 45% da energia consumida nos confinamentos e sala de ordenha vem do biogás, por meio de um gerador de 120 KVA. “A despesa é menor e, pelo tamanho e consumo da propriedade, o padrão da fornecedora de energia elétrica, não aguentaria fornecer toda a energia necessária. Uniu-se o útil ao agradável”, explicou Van Der Meer.
Processo
O biogás é obtido por meio da fermentação, sem oxigênio, de fezes de animais ou restos de comida, por exemplo. Este processo é todo conduzido pelos biodigestores, centrais tecnológicas que aceleram a decomposição e a fermentação dos dejetos, produzindo e fazendo a otimização da utilização do gás.
Ainda no biodigestor, o metano entra em combustão para gerar energia e, diretamente, abastecer os motores adaptados da propriedade. Ao longo do processo é gerado ainda um líquido proveniente dos dejetos, além dos resíduos sólidos que sobram após o processamento da matéria orgânica. A água pode ser reutilizada na irrigação e os resíduos podem ir para a adubagem
Na Fazenda dos Van Der Meer, a sobra líquida é utilizada na irrigação fertilizante em áreas de cultivo agrícola próximas da leiteria. Já a parte sólida que resta após a produção do gás, é transportada para áreas agrícolas mais afastadas, e distribuídas na lavoura, quando esta se encontra sem cultivo, nas entre safras. “Por isso os biodigestores são essenciais para a decomposição e aproveitamento da matéria-prima e do gás liberado”, confirmou Roderik.
O Projeto “Pecuária de Baixa Emissão de Carbono: geração de valor na produção intensiva de carne e leite”, coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), tem o intuito de, ao longo de um ano, avaliar e disseminar alternativas economicamente viáveis para o tratamento de dejetos na pecuária, como parte do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC). Para tanto, serão realizados levantamentos no Brasil e no exterior de modelos de tratamento, seguidos da avaliação econômica de cada um deles. Os modelos viáveis serão difundidos pelo Projeto por meio de workshops nas principais regiões produtoras do Brasil.