A tristeza parasitária bovina (TPB) e a tripanosomose são causadas por hemoparasitas presentes na corrente sanguínea e nas hemácias. Os agentes causadores dessas enfermidades são distintos. A tristeza parasitária bovina, conhecida também como piroplasmose, é classicamente causada pela Babesia (B. bigemina ou bovis, ambos protozoários intracelulares) e Anaplasma (A. marginale, uma rickettsia intracelular). Já a tripanosomose bovina tem como agente o Tripanosoma (T.vivax, um protozoário extracelular).
No campo, o diagnóstico diferencial entre as doenças é difícil, pois muitos dos sintomas clínicos manifestados pelos bovinos são comuns em ambas as enfermidades. Entre os sinais similares estão: febre, anemia, lacrimejamento, diarreia, inapetência, apatia, perda de peso, queda na produção de leite, redução da eficiência reprodutiva, aumento de abortos, quadros com sintomatologia nervosa, que podem se assemelhar, inclusive, aos sintomas da raiva em bovinos, entre outros. Em casos graves, o quadro clínico normalmente evolui para o óbito do animal.
Além disso, os estudos necroscópicos realizados em bovinos são bastante similares e comumente incluem icterícia, anemia, aumento de volume do fígado (hepatomegalia) e baço (esplenomegalia), edema pulmonar e hemorragias na superfície do cérebro.
Outro problema relacionado à diferenciação é a ampla difusão dessas parasitoses que estão presentes em todo o território nacional, sendo que todos os estados brasileiros têm registrado casos das doenças, inclusive com diversas áreas endêmicas espalhadas pelo país.
A similaridade na sintomatologia da tristeza parasitária e tripanosomose é tanta, que alguns pesquisadores sugerem que a definição de TPB deve englobar o Tripanosoma, junto à Babesia e Anaplasma, como um dos agentes causadores dessa doença. Porém, essa mudança ainda é foco de discussão entre os especialistas, e não existe uma unanimidade sobre a classificação mais abrangente.
Obviamente, alguns achados clínicos relacionados à tripanosomose são mais específicos e incluem sinais característicos da doença, como opacidade ocular discreta, que pode evoluir para um aspecto clínico ulcerativo similar à cerato-conjuntivite, perda de peso, quedas produtivas mais rápidas e acentuadas, presença de animais com artrites, orquites, graves surtos de abortos, aumento de linfonodos, e como o Tripanosoma não causa lise de hemácias, – diferentemente do complexo Babesia e Anaplasma – animais acometidos pela enfermidade raramente têm urina escura (hematúria). Além disso, no Brasil, os surtos de tripanosomose têm apresentando gravidade e causado a perda de animais em proporções maiores que os casos de tristeza parasitária.
De qualquer forma, é muito difícil diferenciar a TPB clássica (babesiose + anaplasmose) da tripanosomose, em termos de diagnóstico clínico a campo. Por isso, a utilização de exames laboratoriais é imprescindível para confirmar o tipo de micro-organismo responsável pelo quadro anêmico. Para o diagnóstico da tripanosomose é recomendada a utilização de métodos sorológicos (RIFI e ELISA) ou moleculares (PCR), por conta da baixa sensibilidade dos exames microscópicos diretos, como teste de gota espessa e de Woo.
Os veterinários e o produtores, normalmente, começam a suspeitar da contaminação por tripanosomose quando casos inicialmente diagnosticados como tristeza parasitária e tratados com drogas específicas para Babesia (diminazeno ou imidocarbe) e Anaplasma (tetraciclinias, oxitetraciclinas ou enrofloxacinas), apresentam uma certa melhora nos sintomas e posteriormente, em cerca de 2 a 3 semanas, os animais voltam a ter sinais clínicos agudos e vão à óbito rapidamente. Por isso, o diagnóstico diferencial entre as doenças é importante para que o rebanho seja tratado adequadamente.
Apesar das similaridades existentes e da possibilidade da inclusão do Tripanosoma na tríade causadora da tristeza parasitária bovina, é importante esclarecer que as formas de contaminação mais comuns e o tratamento destes patógenos são diferentes.
No caso da tripanosomose, as principais fontes de transmissão incluem, principalmente, a presença de mosquitos hematófagos e o uso compartilhado de agulhas no rebanho, durante a aplicação de ocitocina na ordenha ou em vacinações massivas. Já no caso de contaminação por Babesia e Anaplasma, o carrapato é o principal agente transmissor. Porém, ambas podem ser transmitidas de forma transplacentária, e esse fator deve ser levado em conta durante a implementação de programas de controle dessas enfermidades.
Quanto ao tratamento, a droga específica para o combate da tripanosomose é o isometamidium (nome comercial Vivedium) e segundo diversos estudos nacionais e internacionais, o diminazeno e imidocarb não são efetivos contra o Tripanosoma e apenas diminuem o nível de parasitemia de forma transitória. Da mesma forma, o isometamidium não é efetivo contra a babesiose, sendo recomendado nesse caso o uso de diminazeno. Por sua vez, a Anaplasma deve ser tratada com oxitetraciclinas ou enrofloxacinas, que tendem a ser drogas bastante eficazes. Portanto, conhecer o agente causador da doença é fundamental para o tratamento correto.
Autoria: Agrolink