‘Por que deixei de ser vegano para melhorar minha saúde’

John Nicholson em 2010, quando ainda era vegano, à esquerda; ao lado, ele aparecem em imagem, mais magro depois de voltar a comer carne (Foto: Arquivo pessoal)

Por convicção ou por moda, o fato é que o número de pessoas que adotam a dieta vegana tem crescido substancialmente nos últimos anos. Com isso, elas não comem nenhum tipo de alimento de origem animal, como carne, peixe, queijo, ovos e até mel.

No Reino Unido, por exemplo, o número de veganos aumentou 350% entre 2006 e 2016.

Segundo o serviço nacional de saúde do país (NHS, na sigla inglesa), para conseguir todos os nutrientes necessários, os adeptos da prática devem manter uma dieta muito variada e equilibrada, o que exige planejamento.

Embora muita gente consiga isso, alguns adeptos de longa data estão abandonando o veganismo por problemas de saúde.

John Nicholson e sua companheira se tornaram veganos em 1984, quando tinham 23 anos e ainda viviam em uma fazenda no norte da Escócia. Agora, 26 anos depois, o casal decidiu voltar a comer carne.

“Nós costumávamos ver o gado indo para o matadouro. Então decidimos parar (de comer carne)”, conta ele. “Depois, tivemos que pesquisar o que poderíamos comer”.

Ele conta que expandiu seu horizonte alimentar quando começou a olhar para as dietas oriental e indiana. “Logo depois, o governo começou a falar de alimentação saudável, o que não ocorria antes. Então, nós pensamos: legal, fizemos uma escolha moral e saudável”, diz Nicholson.

No entanto, conforme os anos foram passando, os dois começaram a perceber uma piora na saúde. A causa ainda era desconhecida.

“Tive síndrome do intestino irritável por 17 anos”, diz Nicholson. “Toda vez que eu comia, minha barriga inchava tanto que seria possível colocar um copo em cima dela”, explica.

Nicholson conta que o problema afetava sua digestão. Em alguns dias, ele não conseguia sair de casa de tanto que precisava ir ao banheiro. Seu colesterol também aumentou e ele começou a engordar. Com 1,78 metro de altura, chegou a pesar 95 quilos.

 

Veganos consomem legumes, verduras, frutas, cogumelos e nozes e outros produtos obtidos da natureza que não tenham a ver com o mundo animal

 

 

Ao mesmo tempo, sua companheira sofreu com hipotireoidismo, doença que pode causar aumento de peso, queda de cabelo, ressecamento da pele e fadiga. Então, o casal decidiu mudar e retornar ao tempo em que não restringiam sua alimentação.

‘Mudança de identidade’

“Minha mulher disse que o problema não era o que estávamos comendo, mas o que nós não comíamos. Ela achava que precisávamos mudar para fazer alguma diferença. Inicialmente fiquei cético, mas depois decidi apoiá-la”, diz Nicholson.

O impacto na saúde dos dois foi quase imediato. Em 48 horas, Nicholson começou a se sentir melhor e seu problema no intestino desapareceu. Sua companheira também apresentou melhora.

“Quando você é vegano por 26 anos, isso acaba virando parte da sua identidade”, diz John.

Ele diz que ficou preocupado com o retorno à dieta com proteína animal, mas ele e sua mulher conversaram longamente e resolveram pela mudança definitiva. “Decidimos colocar nossa saúde acima dos animais”, disse.

“Penso em que minha avó diria para os veganos. Acho que ela afirmaria que é uma insensatez autoindulgente”, diz Nicholson. “Mas a geração dela comia sabendo a origem do produto.”

“O que estamos fazendo aqui é voltar para como as coisas costumavam ser antes dos alimentos processados”, diz.

A dieta vegana restringe o consumo de qualquer alimento que tenha origem animal, como carnes, ovos, e leite

 

Ansiedade

Estelle Silver foi vegana por oito anos antes de voltar a comer carne. Quando retornou, não sabia que isso iria ter um impacto positivo sobre seus problemas de saúde.

“Me tornei vegana porque me disseram que eu tinha intolerância à lactose”, diz. “Eu já havia sido vegetariana durante 20 anos. Fazia tempo que eu pensava em me tornar vegana por causa de minhas crenças sobre o abuso dos animais e das práticas da indústria de granjas. Assim, foi uma combinação perfeita para eu dar esse último passo”, disse à BBC.

Inicialmente, Estelle ficou contente com a mudança porque teve uma melhora em sua pele. Mas com o tempo ela passou a sentir cansada e incapaz de lidar com o estresse. Além disso, desenvolveu problemas de ansiedade.

“Toda vez eu saía, ficava muito nervosa. Eu quase não conseguia falar com as pessoas e com meu namorado”, diz.

“Nunca tinha feito a conexão (dos problemas de saúde) com a dieta e a segui completamente porque, por ética, me sentia muito melhor não dando meu apoio à indústria da alimentação animal, e também estava convencida de que a dieta era saudável”, diz.

Oito anos depois, para sanar seu desejo por carne e peixe, Estelle começou a criar “armadilhas” em sua dieta vegana, além de “pequenos prêmios”.

“É como se meu corpo me agradecesse cada vez que eu comia um pedaço de carne”, conta. Pouco depois, no mesmo ano, ela foi diagnosticada com síndrome de fadiga crônica. Em um grupo de apoio a pessoas com a doença, ela foi orientada que a ingestão de carne e peixe poderia aliviar os sintomas.

“Desde então, minha saúde tem melhorado bastante e praticamente não tenho mais ansiedade”, diz Estelle.

 

“De um ponto de vista ético, desejaria poder viver sem consumir produtos de origem animal, mas agora não acredito que uma dieta vegana seja saudável, meu corpo simplesmente não suportaria”, afirma.

Segundo Heather Russel, nutricionista da Sociedade Vegana do Reino Unido, é possível obter todos os nutrientes que o corpo necessita com uma dieta vegana, mas o planejamento é fundamental.

De acordo com o Serviço Britânico de Saúde Pública, os veganos que não controlam bem sua dieta podem sentir falta de nutrientes importantes, como cálcio, ferro e vitamina B12.

 

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