No dia a dia dos criadores de gado, observar os hábitos de cada animal, e prever qual deles está doente ou no cio, pode se tornar uma tarefa difícil em meio às obrigações e compromissos que a administração da propriedade requer. Quanto maior o rebanho, mais complicado. Para os irmãos Thiago e Leonardo Martins, esse problema tinha uma solução. Bastava usar a tecnologia. Eles são os desenvolvedores da coleira C-Tech, capaz de monitorar as atividades de cada animal 24h por dia.
Em 2009, os dois irmãos iniciaram na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, uma pesquisa sobre mecanismos para medir a ruminação dos bovinos. Lá, eles conheceram o professor E consultor em veterinária Marcelo Cecim, que os incentivou a investir no setor de tecnologia para o agro. “Durante nossas conversas percebemos que essas ferramentas de diagnóstico animal poderiam ser tendência no futuro, e muitos produtores no exterior já usavam produtos parecidos”, afirma Thiago. “Decidimos então desenvolver nossa própria tecnologia, usando parâmetros que iam além da simples ruminação”, completa. Nascia assim a startup Chip Inside, lar da C-Tech.
As coleiras C-Tech são colocadas ao redor do pescoço de cada vaca, e, por meio de um sensor, registram e arquivam até 27 horas de dados sobre o posicionamento do animal. Os diferentes tipos de movimento detectados pelo aparelho conseguem definir se a vaca está em atividade, em ruminação ou parada em estado de repouso. Ao passarem por antenas instaladas na entrada do local de ordenha, as coleiras enviam as informações coletadas para um software disponível em qualquer computador com acesso a internet, onde serão organizadas e analisadas. De acordo com o professor Cecim, as análises são feitas com base em comparações do comportamento do animal. “Se a vaca diminuiu seus níveis de atividade e ruminação, e aumentou as taxas de ócio, por exemplo, pode ser um sinal de que está doente, e o recomendável é o produtor contatar o veterinário responsável”. O mesmo acontece quando o nível de atividade aumenta, enquanto os outros parâmetros diminuem, significando um possível estado de cio.
Cada coleira custa R$ 350, e tem duração cinco anos. Já o valor do pacote com as antenas receptoras e o software de interpretação e análise é de R$ 19.000. Para produtores que quiserem gastar menos, como aqueles com rebanhos menores entre 20 e 40 cabeças, a Chip Inside oferece um sistema de locação de coleiras, com preços que variam de R$ 18,90 a R$ 45,90 dependendo da quantidade de animais. A empresa também disponibiliza, ao preço de R$ 5 por animal, um serviço chamado CowMed Assistant, na qual os produtores recebem assessoria e consultoria de profissionais da empresa sobre o estado de cada animal.
Hoje, os sócios trabalham para lançar nos próximos meses uma nova versão da coleira destinada especialmente ao mercado de gado de corte. Além disso, estudam para o futuro outras ferramentas com foco no bem-estar animal. Um dos principais objetivos da Chip Inside, segundo os sócios, é prevenir, por meio de um diagnóstico precoce, o descarte de animais. “Estamos criando uma biblioteca sobre os sinais de cada doença. Já somos capazes, por exemplo, de reconhecer alterações comportamentais típicas de uma Mastite em quatro ou cinco dias antes de a doença se manifestar”, conta Thiago. Para os próximos anos, a empresa pretende fortalecer suas atividades na região Sul, e expandir o serviço para o resto do país.