Depois de encerrar dezembro com margens bastante remuneradoras – e surpreendentes diante dos problemas enfrentados no primeiro semestre do ano passado -, os frigoríficos brasileiros de carne bovina terão de se apoiar nas exportações para manter os bons níveis de rentabilidade ao longo de 2016.
Com o consumidor brasileiro retraído por conta da crise econômica e dos preços impeditivos da carne bovina no mercado doméstico, a expectativa de analistas é que os frigoríficos mais dependentes do mercado interno tenham um ano mais desafiador. Do outro lado, os que exportam – especialmente os grandes JBS, Marfrig e Minerva Foods – deverão ter outro ano positivo, favorecidos pela apreciação do dólar.
O analista da consultoria MB Agro, César Castro Alves, disse que a tendência para as exportações é muito positiva, especialmente porque EUA e Austrália, concorrentes do Brasil, enfrentam uma oferta ainda muito restrita de gado bovino. Além disso, a alta do dólar torna o boi brasileiro mais barato.
A avaliação é corroborada pela sócia-fundadora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, que citou a abertura do mercado da China, grande promessa para as exportações brasileiras de carne bovina neste ano.
Coordenador da área de pecuária da Agroconsult, Maurício Nogueira também é otimista. “Só não aumentamos as exportações se houver um problema de ordem sanitária”, afirmou, destacando que em 2015 a alta do dólar já foi bastante favorável para os exportadores. Conforme a Agroconsult, mesmo com a queda de 7% no volume de carne bovina exportado em 2015 e com o recuo de 17% da receita em dólar, o faturamento em reais aumentou 15,87%.
Se não há grandes obstáculos no exterior, no mercado doméstico, o consumo deve continuar limitado. Segundo Alves, não há chance de a demanda por carne bovina se recuperar no país. Assim, 2016 pode registrar a terceira redução consecutiva no consumo per capita de carne bovina no país.
Na avaliação de Alves, a oferta de boi gordo continuará restrita neste ano. Isso é mais um fator negativo para os frigoríficos, já que a tendência é de que as cotações do boi continuem em patamares elevados num momento em que os preços da carne bovina têm potencial de alta mais limitado.
Além disso, ele observa que a produção de bovinos no sistema intensivo de confinamento está bastante pressionada pela disparada dos preços do milho, que subiu 15,7% em 2016. Com a alta do milho, os confinadores só teriam alguma margem caso o boi gordo estivesse cotado a R$ 170 por arroba. “Se pensar no preço da carne, não tem lastro para esse boi de R$ 170”, disse Alves. Diante disso, é provável que a produção de boi confinado caia outra vez, o que pode restringir mais a oferta.
Para Nogueira, a oferta de animais deve ser maior neste ano. Mas isso também é negativo para os frigoríficos que atuam no mercado interno. “Vão competir no mercado interno desaquecido e mais ofertado”, acrescentou.
Apesar desse cenário difícil, há ponderações. De acordo com Alves, a alta do milho também atinge em cheio a produção das carnes de frango e suína. Inevitavelmente, os preços dessas carnes terão de subir. Com isso, os preços da concorrente carne bovina podem ganhar alguma sustentação.
A maior “disciplina” da indústria brasileira de carne bovina, que no ano passado fechou frigoríficos para se adequar à menor oferta de bois, também pode ajudar as empresas neste ano, segundo Alves. Assim, disse, os frigoríficos estão hoje em mais condições de influenciar os preço do gado. Na prática, quando o boi gordo atingir níveis que afetam as margens, a indústria de carne bovina pode reduzir as escalas de abate.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.