Por Tim Petry, Extension Livestock Marketing Economist do Departamento de Agronegócios e Economia Aplicada da NDSU (North Dakota State University)
O comércio internacional está aumentando em importância para o setor de carne bovina dos EUA. À medida que as novas questões comerciais surgem, os preços da carne e dos bovinos, bem como os preços das carnes concorrentes, ficam voláteis.
Um número crescente de questões, algumas controversas, parecem estar envolvendo o mercado mundial de carne bovina. Algumas fornecem desafios para exportadores de carne e países importadores, mas também podem oferecer oportunidades para países como os Estados Unidos.
Os EUA são o maior exportador de carne bovina de alta qualidade do mundo e o principal exportador de carne bovina em valor. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) projetou que os quatro principais países exportadores de carne bovina em 2017, em ordem de importância, serão Índia, Brasil, Austrália e os EUA.
O USDA também previu que o mercado de carne da China/Hong Kong superará os EUA como o principal importador mundial de carne bovina. Problemas importantes com cada um desses outros países poderiam afetar o mercado de gado dos EUA.
A Índia estar em primeiro lugar no ranking como o principal exportador mundial de carne bovina é um tanto controverso por si só. A “carne bovina” que é exportada é principalmente carne de búfalos d’água, porque as vacas são consideradas sagradas para muitas pessoas hnduisas. No entanto, a carne de búfalos, também conhecida como carabeef, concorre diretamente com carne de menor qualidade produzida a pasto de outros países, como Brasil e Austrália.
Algumas frigoríficos na Índia são operados por muçulmanos, que tiveram problemas com o governo federal dominado pelos hindus. Em maio, o governo indiano impôs a proibição da venda de gado e búfalos nos mercados de animais para serem abatidos.
Em julho, o Supremo Tribunal da Índia suspendeu a proibição. Como as exportações de carne de búfalo são um mercado lucrativo para a Índia, muitos esperavam que a proibição fosse removida. Mas as perspectivas potenciais de uma proibição, pelo menos temporariamente, causaram incerteza e volatilidade no mercado mundial de carne bovina.
O Brasil, o segundo maior exportador de carne bovina, também teve sua parte na turbulência do mercado. Um escândalo de suborno da inspeção de carne envolveu várias empresas do setor e reduziu temporariamente as exportações de carne bovina no início de 2017.
A JBS, com sede no Brasil e a maior empresa de carnes do mundo, foi abalada por um escândalo de suborno político e está alienando alguns ativos.
No final de 2016, ambos os países aprovaram a comercialização bilateral de carne fresca e congelada entre os EUA e o Brasil. Quantidades relativamente baixas de carne bovina de menor qualidade foram importadas para os Estados Unidos do Brasil e algumas de alta qualidade foram enviadas dos EUA para o Brasil.
A JBS foi um player importante nessas transações. Em 22 de junho, o USDA anunciou que as importações de carne fresca e congelada do Brasil foram suspensas devido a preocupações com a segurança alimentar. A China, principal cliente de carne bovina do Brasil, também anunciou que estava examinando mais de perto a carne bovina do Brasil.
A Austrália, terceiro maior exportador de volume de carne bovina, sofreu uma grave seca em uma grande região produtora de carne bovina em 2014 e 2015. A redução forçada do rebanho resultou no aumento da produção e exportação de carne bovina. Um retorno a chuvas mais normais permitiu a reconstrução do rebanho em 2016 e a menor produção de carne reduziu as exportações. Curiosamente, durante os primeiros quatro meses em 2017, os EUA superaram a Austrália tornando-se temporariamente o terceiro maior exportador de carne em volume.
A Austrália foi o maior fornecedor de carne bovina para os EUA, mas caiu para o terceiro lugar em 2017 atrás do Canadá e da Nova Zelândia. As importações de carne da Austrália diminuíram 39% em 2016 com relação aos níveis inflacionados de 2015 e esse ritmo mais lento continua em 2017. A menor produção e os altos preços da carne também estão levando a um menor volume de exportações para outros países.
O mercado de exportação está se tornando cada vez mais importante para os preços do gado nos EUA. Após um difícil ano de exportação de carne bovina em 2015, devido a vários fatores, as exportações de carne bovina cresceram mais de 12,5% em 2016 e, segundo o USDA, devem aumentar outros 9% em 2017. As exportações aumentaram cerca de 15% no primeiro semestre de 2017. Essa foi uma das razões para o aumento do preço do gado em maio de 2017.
As exportações dos EUA foram especialmente fortes para os quatro principais clientes: Japão, México, Canadá e Coreia do Sul. Vale notar que os EUA estão em negociações comerciais com o Japão porque o país se retirou da Parceria Trans-Pacífico.
No início de julho, a União Europeia e o Japão assinaram um Acordo de Parceria Econômica, que dá acesso favorável à carne bovina europeia no Japão. Os EUA também estão discutindo as provisões do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) com o Canadá e o México. Manter o forte comércio de carne com os principais clientes de carne bovina é importante para os Estados Unidos.
O principal obstáculo para retomar as exportações de carne bovina dos Estados Unidos para a China foi o processo de negociação política. Agora que um acordo está em vigor e a carne pode ser exportada, o tamanho do mercado chinês precisará ser determinado pelo mercado.
As exigências de que a carne deve ser rastreável até a fazenda de origem usando um identificador exclusivo e não contenha promotores de crescimento, aditivos para alimentação animal e outros compostos químicos podem restringir a quantidade de carne bovina inicialmente disponível para exportação para a China. Os altos preços a mais longo prazo podem incentivar os produtores de carne a criar gado que cumpra esses requisitos.
Várias das questões discutidas anteriormente impactaram temporariamente os preços do gado e, em particular, o mercado de futuros. Com o acesso instantâneo a informações mundiais tão facilmente disponíveis, a expectativa é de que a volatilidade dos preços continue à medida que a dinâmica do mercado global de carne bovina continua a evoluir.
Fonte: NDSU, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.